sábado, 4 de novembro de 2017

Museu Nacional de Arte Antiga, de Lisboa

Em agosto de 2017, estive no Museu Nacional de Arte Antiga, localizado em Lisboa (GPS  38.704516 ; -9.162278).

Este museu foi criado em 1884, e tem a mais relevante coleção pública portuguesa, entre pintura, escultura, ourivesaria e artes decorativas, europeias, de África e do Oriente. Cerca de 40.000 obras, tem no seu acervo a maioria das obras consideradas "tesouro nacional" pelos portugueses.

Tenho que confessar que não tinha muita ideia do que encontraria lá dentro, tendo em vista que esse museu não é muito divulgado no Brasil, nem nunca havia visto algum livro com seus acervo, com exceção feita a sua obra de Bosch, extremamente famosa no mundo inteiro: As Tentações de Santo Antão (c. 1500). Só por esta obra já vale pagar os seis euros da entrada (se quiser ver a foto aumentada, é só clicar nela).

As Tentações de Santo Antão - Bosch

Tive a curiosidade de fotografá-la por trás, para ver a forma como eram construídos os suportes de madeira na renascença. Talvez a armação que exista atualmente já tenha sido colocada pelos restauradores modernos. Mas é interessante ver a parte da obra que ninguém mostra:

As tentações de Santo Antão, vista por trás.

Mas o museu não se resume a Bosch. Para mim foi uma grata surpresa passar algumas horas visitando as dependências daquela instituição, e ter partilhado de bons momentos no pequeno jardim, com vista para o Tejo, que existe atrás do prédio.

Jardim atrás do prédio do MNAA

Sempre gostei da arte medieval e da Renascença por motivos pessoais e de ordem "filosófica", se se pode dizer assim (não gosto da palavra "filosofia" pela extensão de aplicações modernas). Sempre tenho gratas surpresas ao visitar esses museus na Europa, e suas coleções de arte antiga. Sendo assim, não foi diferente no MNAA.

Talvez o hierático “Santo Agostinho” de Piero de La Francesca caia na graça dos estudiosos. A minha preferência, porém, talvez se dê a obras aparentemente singelas como a “A Virgem e o Menino”, de Hans Mamling (c. 1480-1490). Ou os quadros de Quentin Metsys, que sempre me causaram impacto ao vê-los nos livros, quanto mais pessoalmente.

A Virgem e o Menino - Mamling

Digno de nota é a “Salomé” (1510-1515) de Lucas Cranach (sempre gostei do caráter austero do alemão em suas obras); “Obras de Misericórdia” de Pieter Brueghel, o moço (infelizmente não tão extraordinário quanto o "Velho"); E o São Jerônimo (1521), de Dürer. A foto não é capaz de demonstrar o grau de profundidade e técnica que o mestre germano consegue impor na superfície da pintura.

Salomé - Cranach

São Jerônimo - Dürer

Devo admitir que a coleção de pinturas de arte europeia é extraordinária. Contudo, é pasível de admiração uma parte menos famosa, mais invisível, e mesmo assim não menos surpreendente, que é a ala das obras trazidas da Ásia e da África, frutos das navegações. Diversas cerâmicas, obras de ourivesaria, azulejos, etc.

Painel de Azulejos, Alfiz 
(exemplar, datável entre 1570-1580, 
proveniente da Mesquita de Damasco, 
construída por Solimão I, o Magnífico)

Um saleiro de marfim (séc. XVI), produzido pelos artesãos do Benim, torna-se um trabalho de esmerada beleza, por exemplo, digno de figurar em minha memória. Importante é perceber como os outros nos percebem. E nesse trabalho há um detalhamento que aqueles artesãos se impuseram em retratar os portugueses.

saleiro de marfim (séc. XVI)

Também nessa mesma linha, os famosos Biombos Nambam (c. 1570-1616), que dá a transparecer um pouco a forma com que os japoneses viram os portugueses em suas visitas. Nambam quer dizer “bárbaros do sul”, ou seja, esta era a imagem que os orientais tinham dos estranhos visitantes ocidentais em sua terra.

Biombos Nambam

Outro trabalho extremamente estranho, ao mesmo tempo de inesperada percepção do Artista é o “Inferno” (c. 1510-1520), pintado por um artista português desconhecido. Parece um inventário de castigos aos pecados capitais da Igreja, executados pelos demônios, que utilizam adornos ou vestimentas que indicam origem fora da Europa. Talvez o medo que a influência que novas culturas pudessem trazer ao pensamento cristão do velho continente.

O Inferno

Não podia faltar a menção a uma obra de arte eterna no coração dos portugueses, “Os painéis de São Vicente”, de Nuno Gonçalves (c. 1470). Já os tinha visto em meus livros de história do ginásio. No entanto, são extraordinariamente pintados, e sua composição é muito equilibrada e bem elaborada. 


Se estiver em Lisboa, e for um amante da Arte, não deixe de visitar este Museu.

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