Existe uma arte que pode ser comparada a uma roupa de grife. Tal tipo de obra de arte funciona como um paradigma para guiar e determinar o valor do mercado em obras semelhantes.
Esta grife, alçada a esta posição devido ao gosto de uma época, faz com que este tipo de arte seja mais procurado. E, assim, o mercado da arte se comporta como qualquer espécie mercado: oferta e procura determinam o valor.
Da mesma forma que o mercado apresenta tipos de investimentos como ouro e imóveis, o mercado de arte acabou incorporando essa espécie de perspectiva, utilizando obras artísticas como possibilidades aos investidores. De tal forma que o investimento em obras de arte podem acarretar ganhos de capital que nenhum outro ativo seja capaz.
Assim, a cobiça por obras que tenham, no mínimo, um simulacro de novidade e sejam atribuídas a artistas mortos, de preferência jovens, no auge de sua produtividade, tornou-se uma marca dos investidores deste mercado.
Contudo, o mercado de arte não funcionava desta forma até meados do século XIX. Talvez, com o advento do romantismo, a arte tenha começado a tomar este rumo, com o interesse do público pelos artistas, mais do que por suas obras.
Dentro de uma ótica grosseira, por exemplo, William Turner (1775-1851) poderia ser considerado um pop star, pela sua excentricidade. Ainda mais quando aquilo que, antes, era considerado apenas borrões foi elevado às alturas da genialidade por John Ruskin (1819-1900), maior crítico britânico da época.
E assim vimos que comerciantes começaram a visualizar o mercado de arte como outro qualquer, encontrando oportunidades de investimento em assista desconhecidos que faziam obras de arte diferentes. Conhecidos são os exemplos de Van Gogh (1853-1890), ou de Modigliani (1884-1920), artistas pobres e sem sucesso, com vidas trágicas, que se tornaram ícones de suas épocas após a morte.
No mercado brasileiro, temos o exemplo de Aleijadinho (1738-1814). Uma obra do barroco mineiro tem um valor. Contudo, quando alguém a atribui a Aleijadinho, este valor de multiplica, ainda que a obra continue a mesma.
Este comportamento tem sido caso de questionamento de diversos estudiosos, acreditando que aquilo que se atribui a Aleijadinho é uma quantidade de obras muito maior do que a que ele realmente produziu. E que o mercado força estas atribuições como forma, apenas, de aumentar o valor da obra.
Vê-se, portanto, neste caso, que a obra de arte não é admirada pelo seu valor intrínseco, mas tal como um fetiche, ou um objeto que empresta uma expressão de poder a quem o possui.
Sendo assim, o mercado da arte tem essa faceta de buscar valorizar seus produtos, ainda mais quando estes representam símbolos históricos, ou exemplos de heterodoxia artística.
Vemos diversos autores que foram esquecidos, alguns por séculos -Vermeer (1632-1675) e El Greco (1542-1614) por exemplo- para depois termos o retorno deles ao mercado, com altos valores, sem desconsiderar aqui o valor artístico destes exemplos citados.
Vemos outros extremamente valorizados durante sua época -Murilo (1617-1682) por exemplo-, para, depois de séculos, serem importantes apenas para um pequeno grupo de críticos e colecionadores.
Abaporu (1928) é um ícone da arte moderna Brasileira. E por isso tem esse valor: pela ruptura escandalosa dos padrões artísticos, inclusive para os padrões da própria arte moderna brasileira da época.
Pietro Maria Bardi (1900-1999), pareceu não dar muito valor à obra. Após adquiri-la, preferiu vendê-la a incorporá-la ao MASP.
Eu já vi a obra de perto em Buenos Aires, e não me despertou nada: zero. Se eu tivesse que escolher quadros da artista, não me fiaria por este: prefiro outros. Abaporu, com respeito às opiniões discordantes, me parece uma pintura anacrônica. Mas, é claro, que os novos ortodoxos preferirão dizer que isso é uma estultícia.
Diferente é, para mim, um quadro como o "Descida da Cruz", de Rogier van der Weiden (1400-1464), que vi no Museu do Prado: os séculos não apagaram a maestria dessa obra. Quem o viu, pessoalmente, saberá do que digo.
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