Prezados, o que falar do museu do
Prado? Um dos museus mais famosos do mundo, resultado, principalmente, da
riqueza que a corte espanhola gozava nos séculos XVI e XVII, principalmente,
bem como da explosão cultural naquela país chamada de “Siglo de Oro”, com
expoentes culturais em diversas frentes: Cervantes, Velásquez, Góngora,
Calderón de La Barca, Lope de Veja, etc etc etc.
Quando adolescente olhava o livro
da Editora Verbo, da Coleção “Grandes Museus do Mundo”, o Prado povoava minha
imaginação, sem ter sequer a perspectiva de chegar um dia a conhecê-lo.
Entrada do Museu do Prado
(propaganda da Exposição de Bosch - "El Bosco")
Museu do Prado
(propaganda da Exposição de Bosch - "El Bosco")
Para um brasileiro, acostumado às
loas expressadas a um MASP, chegar ao Museu do Prado é surreal. Estar diante de
“trocentos” Velasquez, ou de “trocentos” Goyas, ou de outros tantos Rafaéis
parece a ilusão da miragem de um sonho de todo aquele que ama as artes
Plásticas. Mas para mim, a viagem a este museu, e por este museu, guardou
surpresas que nunca sequer imaginei.
Como são diversas experiências
que tive ao longo de cinco horas e meia de visitação, vou separar minhas
considerações em alguns textos, começando este por Velásquez.
Em primeiro lugar, conhecer
pessoalmente, dois dos quadros mais famosos da história da Arte: A Rendição de
Breda (ou “As Lanças”) e aquele que é conhecido como “As meninas”. Somente
sobre esses dois quadros já foram escritos artigos diversos, sobre a maestria
na composição (o que é evidente à primeira vista), e dos diversos detalhes
existentes, que colaboram o encontro entre espectador e o artista, ainda que alguns séculos os
separem.
A Rendição de Breda (ou "As Lanças")
As Meninas
Dignas de destaque são obras que
não estão tanto sob os holofotes da mídia (logo abaixo), mas que foram objeto de releitura
feita no século XX e, por isso mesmo, valorizadas: El
Bufón Calabacillas (1636-37), Francisco Lezcano, el niño de Vallecas (163-45)
e o Retrato del enano Don Sebastián de Morra
(1645).
El Bufón Calabacillas
(1636-37),
Francisco Lezcano, o menino de Vallecas (1643-45)
Este quadro foi base de um trabalho do famoso pintor inglês Roger Bacon.
Retrato do anão Sebastião de Morra (1645).
Para os releitores, a visão
dessas espécies de quadros parece um reconhecimento do humano, ao dar dignidade a figuras preteridas no trato cotidiano da
corte. Outros, porém, entendem que se tratava de uma atitude burlesca de Velasquez, estabelecendo uma crítica à corte espanhola ao utilizar figuras marginais em
destaque e dar títulos nobres a elas.
Seja qual for o motivo,
percebemos a maestria em perscrutar a psicologia do retratado.
Tenho que confessar que as miríades de quadros de personagens da Corte espanhola, principalmente de Fernando IV, ainda que feitos por um mestre como Velásquez, hoje em dia me parecem enfadonhas. Contudo, ainda assim, podemos perceber uma espécie de esmero técnico na confecção dos quadros, onde, talvez, a carência de assunto tivesse que dar relevo à eficácia da forma, ou onde houvesse o perigo quanto a possibilidade de "desnudar" o retratado, como vemos, por exemplo, no retrato de "La Reina Isabel de Bourbon a Caballo":
La Reina Isabel de Bourbon a Caballo (1635-36)
Vejam o detalhe do vestido da Dona Rainha, e percebam o quanto de suor Velasquez deve ter gasto ao pintar o tecido:
Detalhe do vestido do quadro anterior
Outro quadro que também povoava minha memória de criança, que havia na coleção "Mitologia", da editora Abril, era o Triunfo de Baco (ou "os bebuns"... ou "os ébrios", numa linguagem mais castiça). A visão de alguns "populares" espanhóis, contemporâneos de Velasquez, juntamente com o deus Baco, da antiguidade romana, era um anacronismo que minha cabeça de criança não conseguia capturar. Mas juntar coisas díspares temporalmente me parece uma forma de estabelecer o caráter de "eternidade" ao "aqui e agora", ao presente.
O Triunfo de Baco (1628-29)
Esta experiência de estar próximo de obras tão icônicas para um artista, quase um momento de reverência, se quebrou ao ver o frescor de uma "Cabeça de Veado", onde o pintor parecia demonstrar a leveza da pintura e, o que julgo ser mais importante, o amor que tinha ao trabalho de pintar: pinceladas rápidas, fluídas, sem o policiamento formal de outras pinturas. A solução de pintura dos pelos me parece maravilhosa.
Cabeça de Veado (1628-29)
Em suma: ficar na presença de
dezenas de Velasquez é uma experiência intraduzível para um artista, para quem ama este labor ou para um amante da arte.
Adorei seu blog. Vandressa Gomes
ResponderExcluirGrato pela consideração. Ainda vou colocar algumas experiências que tive em museus europeus. Abraço!
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