Quando estive no Museu
do Prado, acompanhado de minha esposa, acabei ficando durante cinco horas e meia
olhando a bela coleção.
Muitas obras chamam a
atenção, principalmente por se tratar de uma coleção feita pelos reis mais
poderosos da Europa em seu tempo, além de coletar grande parte da pintura
espanhola, que tem dentre seus mais expressivos pintores clássicos homens da
envergadura de Velásquez e Goya.
Contudo, em uma sala do
museu, eu tive uma experiência inesquecível. A maior experiência que tive com
uma obra de arte em minha vida: A Deposição da Cruz (c. 1435).
A Deposição da Cruz (c. 1435) - Museu do prado
A pintura é extremamente
famosa (mais detalhes técnicos, veja aqui).
E diversos estudos foram feitos quanto à composição dessa obra, em que Maria é
colocada na mesma posição de Jesus, como se ela tivesse partilhando com a mesma intensidade do sofrimento deste.
Apesar de tudo que já
havia lido desde criança, apesar da maravilhosa técnica de Weyden, apesar de, na
adolescência, ter lido que este pintor teria sido um dos inventores da tinta a
óleo, nada disso poderia construir uma expectativa para a experiência que tive, que é
intraduzível, porém que buscarei descrever em breves palavras.
Quando entrei na sala
onde a obra estava exposta, senti como se estivesse entrando em um recinto
sagrado. A preponderância da pintura naquele ambiente fazia com que uma força
se expandisse, e criasse uma propensão à meditação.
Diria que havia uma
radiação que se espalhava do quadro a todo o ambiente, que fazia com que eu
sentisse corporalmente a presença de algo divino; isto talvez seja o mais
aproximado que posso dizer do que senti.
Devo dizer que não tenho atração
por relíquias ou coisas do gênero. Tampouco tenho a pretensão de venerar
objetos. Contudo, naquele momento entendi, para minha vida como artista, que o
objetivo precípuo da arte é elevar o ser humano a um estágio que existe dentro
dele mesmo, mas que se encontra adormecido devido a diversos fatores.
Rogier Van Der Weyden
(Tournai, 1400 — Bruxelas, 18 de junho de 1464)
A experiência foi tão
marcante que nos minutos em que ali estive, acometeu-me um silêncio íntimo. E
compreendi que uma obra como aquela não poderia ter sido feita senão com real inspiração
superior. E não encontrei isso nas milhares de obras que vi naquele museu, algumas muito belas.
Detalhe: minha esposa
que estava com dor de cabeça desde manhã cedo, ao ver o quadro, melhorou.
Deixo aqui um
questionamento: a arte é para expressar o que somos, ou para conduzir-nos ao
melhor de nós mesmos? O que ainda resta da arte na pós-destruição de todos seus cânones?
Vai ao museu do Prado?
Não deixe de ver essa pintura! Eu gostaria de ler sobre a opinião de alguém que
a tenha visto pessoalmente.