segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

MUSEU DO PRADO 2: ROGIER VAN DER WEYDEN

Quando estive no Museu do Prado, acompanhado de minha esposa, acabei ficando durante cinco horas e meia olhando a bela coleção.
Muitas obras chamam a atenção, principalmente por se tratar de uma coleção feita pelos reis mais poderosos da Europa em seu tempo, além de coletar grande parte da pintura espanhola, que tem dentre seus mais expressivos pintores clássicos homens da envergadura de Velásquez e Goya.
Contudo, em uma sala do museu, eu tive uma experiência inesquecível. A maior experiência que tive com uma obra de arte em minha vida: A Deposição da Cruz (c. 1435).

A Deposição da Cruz (c. 1435) - Museu do prado

A pintura é extremamente famosa (mais detalhes técnicos, veja aqui). E diversos estudos foram feitos quanto à composição dessa obra, em que Maria é colocada na mesma posição de Jesus, como se ela tivesse partilhando com a mesma intensidade do sofrimento deste.
Apesar de tudo que já havia lido desde criança, apesar da maravilhosa técnica de Weyden, apesar de, na adolescência, ter lido que este pintor teria sido um dos inventores da tinta a óleo, nada disso poderia construir uma expectativa para a experiência que tive, que é intraduzível, porém que buscarei descrever em breves palavras.
Quando entrei na sala onde a obra estava exposta, senti como se estivesse entrando em um recinto sagrado. A preponderância da pintura naquele ambiente fazia com que uma força se expandisse, e criasse uma propensão à meditação.
Diria que havia uma radiação que se espalhava do quadro a todo o ambiente, que fazia com que eu sentisse corporalmente a presença de algo divino; isto talvez seja o mais aproximado que posso dizer do que senti.
Devo dizer que não tenho atração por relíquias ou coisas do gênero. Tampouco tenho a pretensão de venerar objetos. Contudo, naquele momento entendi, para minha vida como artista, que o objetivo precípuo da arte é elevar o ser humano a um estágio que existe dentro dele mesmo, mas que se encontra adormecido devido a diversos fatores.

Rogier Van Der Weyden 
(Tournai, 1400 — Bruxelas, 18 de junho de 1464)

A experiência foi tão marcante que nos minutos em que ali estive, acometeu-me um silêncio íntimo. E compreendi que uma obra como aquela não poderia ter sido feita senão com real inspiração superior. E não encontrei isso nas milhares de obras que vi naquele museu, algumas muito belas.
Detalhe: minha esposa que estava com dor de cabeça desde manhã cedo, ao ver o quadro, melhorou.
Deixo aqui um questionamento: a arte é para expressar o que somos, ou para conduzir-nos ao melhor de nós mesmos? O que ainda resta da arte na pós-destruição de todos seus cânones?

Vai ao museu do Prado? Não deixe de ver essa pintura! Eu gostaria de ler sobre a opinião de alguém que a tenha visto pessoalmente.