INTRODUÇÃO
Existe um grande processo desinformativo no Brasil, em grande parte proporcionado pelo desconhecimento dos
artistas, e alimentado pelos vendedores de materiais artísticos, no que tange à qualidade das
marcas de tintas aquarela.
Como o Brasil não tem uma
tradição na utilização de aquarelas artísticas, no caso seu uso estando mais
direcionado aos trabalhos de ilustradores, existem as especificações de
diversos materiais que são informados como “profissionais”, e que não são nada
mais que, na realidade, produtos destinados a amadores.
Tendo pesquisado um pouco em virtude
de meu trabalho, e não tendo encontrado informações no mercado de materiais
artísticos no Brasil, resolvi escrever este pequeno artigo, que espero que
sirva de roteiro aos que querem experimentar pintar aquarelas.
I - COMPOSIÇÃO DA TINTA
Se você quer saber mais sobre a
composição da tinta, deve procurar maiores informações técnicas em manuais
específicos, vendidos nas livrarias. Este artigo tem por objetivo ser uma
introdução ao conhecimento do material.
A aquarela tem como composição:
1) Pigmentos: naturais ou
sintéticos, minerais ou orgânicos;
2) Goma arábica: como substância
ligante para manter o pigmento em suspensão e fixar o pigmento à plataforma
utilizada;
3) Aditivos como glicerina, fel
de boi, mel e conservantes (que são o grande segredo de fabricação da tinta)
que servem para alterar as características físicas da tinta (viscosidade, tempo
de secagem, transparência ou opacidade, etc.)
4) Solvente: água.
goma arábica em seu estado natural
II - APRESENTAÇÃO DA TINTA
Quando as primeiras aquarelas
foram fabricadas, era comum que fossem secadas, em tabletes, para serem utilizadas
posteriormente com a adição da água através dos pincéis, tal como as aquarelas
escolares.
Contudo, com o aprimoramento das
técnicas e materiais de fabricação, chegou-se a uma formulação em que poderia
ser utilizada em tubos, tal como as tintas a óleo ou acrílicas.
Atualmente, as aquarelas são
apresentadas em tubos (4 ml, 5 ml, 7,5 ml, 8 ml, 10 ml, 12 ml, 15 ml, 20 ml, 24
ml, etc.), ou em tabletes, contidos em dois tamanhos de pequenas caixinhas
(half pan e whole pan).
A preferência de utilização de
uma ou outra é algo extremamente pessoal. Minha preferência é pelos tubos, mas
tenho utilizado, também, alguns tabletes.
half-pan
whole-pan
tubos
III - MARCAS
É preciso sempre reafirmar, tendo
em vista que o leitor pode nunca ter vislumbrado essa informação, as grandes
marcas geralmente fabricam tintas aquarela para diversos níveis de
consumidores, de uma forma em geral em três níveis: profissional, estudante e
escolar.
Algumas marcas fabricam menos ou
mais qualidades de tintas, cabendo destacar que o nível profissional busca
primar pela qualidade dos materiais utilizados no quesito de resistência ao
tempo e à luz, bem como na quantidade de pigmentos.
Observe-se que a técnica de
fabricação de aquarela, apesar de não ser tão evidente, é muito mais apurada
que as tintas artísticas normalmente utilizadas pelos pintores: óleo, acrílica
e guache. Um erro na composição pode inutilizar a tinta.
Talvez por essa dificuldade não
tenhamos a tradição de fabricação de aquarelas e, por este motivo, a
mentalidade do brasileiro, de uma forma em geral, atribua um caráter “infantil”
ao uso da aquarela.
Porém, pela minha experiência,
tem sido uma das técnicas mais difíceis que já encontrei pela frente.
Devido à quase inexistência de
marcas nacionais (tirando a Aqualine, aquarela líquida fabricada pela Corfix), nos deteremos
mais especificamente nas marcas internacionais.
Aqualine, da Corfix
Nota: Anos após escrever este artigo, apareceu no mercado a marca Quati Watercolors (site aqui), marca nacional que busca fornecer ao artista uma tinta de qualidade profissional. Não tive a possibilidade de experimentá-la, mas, segundo notícias e feedbacks de colegas, fui informado ser uma tinta de boa qualidade, com bons resultados.
Quati Watercolors (Brasil)
a) Profissionais (*) (**) – Em negrito, marcas que usei e recomendo
Rembrandt (Talens - Holanda); Artists (Daler-Rowney – Reino Unido); Artists (Winsor & Newton – Reino Unido);
Lukas 1862 (Lukas - Alemanha); Horadam
(Schmincke – Alemanha); Maimeriblu
(Maimeri - Itália); QoR (Golden - EUA); Daniel Smith Extra Fine (Reino Unido);
Old Holland (Holanda); Blockx (Bélgica); Sennelier
Extrafine (França); Mijello Mission Gold (Coréia); M. Graham (EUA); Da
Vinci Artists' (EUA); Holbein
(Japão); Finest (Grumbacher); Lascaux Aquacryl Artists' (França); Pebeo
Fragonard Extra-Fine Artists' (França); Utrecht Artists' (EUA); Quati Watercolors (Brasil).
Winsor & Newton profissional
(*) Algumas marcas ditas
profissionais sofrem diversas restrições dos pintores. São elas: Shin Han – SWC
(Coréia); Turner (Japão); White-Nights (St. Petersburg - Rússia). Os feedbacks que obtive a respeito disso foi no site WetCanvas, que reúne as experiências de centenas de milhares de artistas no mundo inteiro. Sobre essas marcas citadas, li diversos feedbacks relacionados, principalmente, à durabilidade de algumas de suas cores, que apesar de serem classificadas como "lightfastness" (resistentes à luz), não estavam se comportando como tal (no caso da White Nights, citam as seguintes cores: Hansa Yellow, Olive Green, Yellow Ochre, Violet PV3). Algumas cores classificadas como "lightfastness" não resistiram ao teste do telhado, onde um artista pinta uma folha de papel com amostras de cores e o coloca exposto durante meses para receber a luz do sol, com o intuito de verificar a resistência destas à luz. De toda forma, ainda que a Shin Han e a Turner sejam praticamente desconhecidas no Brasil, a marca White Nights tem gozado entre nós de uma popularidade grande devido ao preço de suas tintas e facilidade para aquisição, e conta com defensores entusiastas e apaixonados (mais detalhes sobre a tinta, recomendo a página da Handprint). Já fui ofendido, inclusive, por fazer este comentário aqui. Mas, apenas relato o que estudei e feedbacks de diversos pintores: não estou recebendo nenhuma remuneração por estes comentários.
(**) Algumas marcas das quais nunca
ouvi comentários, apesar de serem fabricantes reconhecidamente idôneos: Finest
(Grumbacher); Lascaux Aquacryl Artists'. Eu utilizei tintas Finest Grumbacher e gostei muito da experiência. Contudo, não sei informar quanto à resistência à luz devido à falta de comentários sobre ela.
b) Amadores de Primeira
(Recomendadas por diversos pintores)
Cotman (W&N); Van Gogh
(Talens); Venezia (Maimeri)
Van Gogh (Talens)
c) Amadoras
Aquafine (Daler-Rowney – Reino Unido);
Pebeo Fine (França); Titan (Espanha); Mijello Mission Silver (Coréia); Academy
(Grumbacher – EUA); Reeves (Reino-Unido); Royal-Langnickel (Reino Unido);
Sakura Koi (Japão); Taker (Espanha); Pelikan (Alemanha);
Sakura Koi (Japão)
d) Escolares
Simply (Daler-Rowney);
Art-Creation (Talens); Angora (Alemanha); Crayola (EUA); Faber-Castell Conector (Alemanha); Koh-I-Noor; Niji;
Prang; Yarka; etc.
Aquarela Koh-I-Noor
IV - CONCLUSÃO
Esta listagem, e nem os
comentários, pretendem ser conclusivos. Existem diversas tintas aquarela orientais
de qualidade, porém que usam técnicas de aplicação diferentes, que ainda desconheço:
Holbein Irodori, por exemplo. Algumas ditas profissionais são consideradas mais
opacas, como a Kuretake Gansai Tambi (Japão).
Temos também as aquarelas líquidas, das quais ainda não adquiri muito conhecimento, apesar de há muitos anos atrás ter usado a Ecoline (Talens). Há, também a Dr. PH Martins, que é considerada de ótima qualidade e muito resistente à luz.
Dr. Ph Martins, aquarela líquida
Apesar de não conclusivas, estas
informações são o resultado de um ano de experiência na busca de entender a
técnica de aquarela, bem como de conhecer seus materiais. E espero que sirva como mapa introdutório para orientar aqueles que
querem iniciar no conhecimento dessa técnica, e para que os iniciantes não se esmoreçam por, ao utilizarem
material de má qualidade, obterem um mal resultado nos seus trabalhos.